Wednesday, December 26, 2007

mea culpa, mea maxima culpa'

Não tenho muito mais a dizer.
Hoje é natal. Não me importo, não ligo, não comemoro. Não acredito, não vejo nada a ser comemorado.
Mas me doeu, hoje, a essa hora, me doeu muito e me sinto culpada por um abandono, por uma falta. Falta minha a algo que me orgulho muito de fazer parte: o Império Serrano. Tenho batido tanto no peito nos últimos anos... hoje me sinto ridícula. Quando mais precisa de mim, o que eu faço? O abandono.
Leiam:

“Viva o Império Serrano!


Silas de Oliveira, Mano Décio, Mestre Macarrão, todos os bambas históricos estavam lá, eles não faltam jamais. Suas almas fazem parte daquele mundo. No mais, quase ninguém foi, compondo um cenário desolador, no endereço de um dos grandes berços do melhor carnaval. A pouco mais de um mês do desafio de voltar ao Grupo Especial, o Império Serrano padece numa melancolia dolorida e silenciosa. Sábado agora, o ensaio da escola, na quadra de Madureira, teve perto de 50 testemunhas. Um vazio de samba-canção, que a verde-e-branco, por toda a sua história, não merece.


Não era a proximidade do Natal, como pôde constatar quem esteve na Mangueira, ou no Salgueiro. (O carnaval curto que inventaram para o Rio em 2008 não permite desperdiçar sábados, para quem é do babado.) Mas ao Império, ninguém foi. Não apareceram os eternos neófitos do samba, que lotaram a quadra em 2004, na inesquecível reprise de "Aquarela brasileira". Esses migram segundo a moda. E a Serrinha está desgraçadamente fora do circuito.


Somente um par de mesas ocupado, um solitário camarote habitado - o da incansável Rachel Valença, salve ela! A entrada a R$ 5 (Mangueira e Salgueiro, na mesma noite, cobravam R$ 20 a cada vivente) não seduziu quase ninguém. E a quadra era um latifúndio constrangedor. A emoldurá-la, o letreiro com o título do enredo de 2008, nova homenagem a Carmem Miranda, ganhava tons irônicos diante do quase-ninguém: "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim".


Mas quem perseverou foi recompensado - afinal, a magia do Império sobrevive. O ensaio começou com "Heróis da liberdade", e os teimosos viraram privilegiados, ao ouvir a lendária bateria dos agogôs executar o samba-enredo mais bonito de todos os carnavais. Um espetáculo! A coleção de obras magistrais da escola permitiu até poupar outros clássicos, como "Aquarela" e "Bumbum, paticumbum, prugurundum", para citar apenas dois não tocados.


Tudo bem. No deserto da quadra à míngüa de público, sobrou dignidade. Desfilaram as baianas, requebraram as passistas, bailaram o mestre-sala e a porta-bandeira - e, mais do que todos os outros, reinou a bateria, com a força e a arte que lhe garantem a fama. Azar de quem não foi, porque sambou-se rasgado madrugada adentro, e a vida real das agruras carnavalescas terminou esquecida por algumas horas. Você aí devia ir, sábado que vem - e no outro, e no outro...


Porque há algo de muito errado numa festa que prescinde do Império Serrano.“

Enviado por Aydano André Motta - 24.12.2007 | 1h47m
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