Saturday, March 20, 2010

Controle

Tive diferentes maneiras de lidar com a possibilidade de ter filhos. Achei durante muito tempo que filhos, assim como um casamento, poderiam de alguma forma, atrasar planos que tinha para minha vida. Fossem esses planos profissionais ou não. Minha liberdade vinha sempre em primeiro lugar. Durante toda minha adolescência meus pais me trataram como se eu tivesse 5 anos, sem liberdade de escolha em praticamente nada. Quando me vi ‘livre’ dessa proteção, passei a fazer o que queria, quando queria. Tinha domínio total sobre minhas ações e tudo o que dizia respeito a mim. Eu estava no comando.
Meu namoro mais duradouro revelou-se uma prisão de 4 anos. Não tinha vontade própria, meus amigos eram os dele. Só percebi onde estava quando tudo terminou. Aprendi um pouco, mas não o suficiente. Relações que duravam mais um pouco se transformaram em relações de dependência onde não havia vida em separado, era aquele papo furado de “uma única energia”, “somos um”... Uma grande babaquice, na verdade. Levei algum tempo para me livrar desse tipo de relação, foi um processo bem sofrido, na verdade... Quase uma desintoxicação, com direito a crises de abstinência gravíssimas... Mas consegui voltar ao comando de minha vida dentro de uma relação.
Aí já viu... Passei a ter certeza de que tudo estaria sob meu comando. Afinal, uma mulher de 35 anos, casada, feliz, independente (e vou parar por aí) pode ter total controle de todos os aspectos de sua vida que envolvam ela própria.
Então você (eu) engravida e tem um objetivo no que envolve o nascimento do primeiro filho: parto normal. Afinal, o corpo é meu, o filho é meu. Eu decido. Mas meses depois, meu principal parceiro, meu corpo, me aplica um golpe: ele não se prepara para o parto. Eu duvidei, briguei com o médico, chorei e esperneei com a possibilidade de perder o momento mais esperado e sonhado nos últimos meses: o parto normal. Pode parecer loucura, mas imaginava cada contração, cada dor...
Até que um exame de nome complicado o bastante para eu me lembrar e uma conversa com uma obstetra indicada por uma amiga colocam meu pé no chão e enterram todas as possibilidades de um parto normal. Apesar do desespero dos dias anteriores, de todo o choro e frustração, recebi a notícia com o alívio de saber que meu filho está 100% dentro do meu barrigão. O problema não é ele, sou eu e meu “útero preguiçoso”, como disse a médica.
Meu corpo me traiu, essa é a verdade. 35 anos e uma gestação levada até o fim parece terem sido um pouco demais para ele. Não tenho controle, não estou no comando. Mas, acredito que seja uma primeira porrada na grande mudança pela qual a minha vida passará com o nascimento de Anthony. Agora não serei mais eu, agora seremos eu e ele, durante muitos anos, até ele se tornar dono do seu próprio nariz e assumir o controle. E a história será contada, mas desta vez por ele.
Estou feliz, muito feliz. Não caibo em mim mesma. Choro. Mas novamente de felicidade.

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