Saturday, July 11, 2009

Primos e Irmãos

Eu fui criada entre homens. Filha única, minha mãe sempre me tratou como uma princesa e meu pai, óbviamente, também.
Mas tinha primos que moravam na casa que fica atrás da minha. Eram uns moleques danados: Ná, Lu e Nagibe. Os dois primeiros poucos meses mais novos que eu e o outro dois anos mais velhos.
A gente brincava junto, a gente se batia, eles tentavam me ensinar a jogar bolinha de gude, a soltar pipa... sempre fui uma desgraça.
Eu até apreciava a idéia de ficar no meio dos coleguinhas deles, principalmente aqueles do Nagibinho, popular pichador do bairro... afinal eles eram todos gatíssimos e mais velhos...
Eu adorava essa possibilidade, ainda mais tendo meus 11 anos... Mas Dona Lourdes não achava isso legal não. Afinal, eu era especial, né? Bobinha, poderia ser enganada por um daqueles moleques.. rsrsrs
Eu sempre dava o meu jeito,né? Aproveitei um pouco a popularidade do Nagibe e da ótima relação que sempre tive com ele. Fiquei conhecida como "prima", virei prima de todos os meninos do bairro e todo mundo sabia que o Nagibinho tinha uma prima cujo pai era uma fera.
É. Eu não podia sair nem nada. Meus pais nunca foram liberais nessa hora. Eu morria de ódio, mas não podia fazer nada. Ficava em casa ouvindo música, lendo minhas revistas Bizz e "improoving my English".
O que eu aprendi com isso tudo? Que andar com os meninos é sempre legal. Detesto mulheres que antes de qualquer coisa dizem que os homens não valem nada. Valem sim, e muito. Adoro todos. Só não gosto daqueles que são burros ou idiotas. Os outros eu sempre perdoo. rs
Aprendi a gostar de música boa. Passava meus momentos solitários ouvindo british rock e aprendendo o que é 'música de verdade' na Fluminense Fm.
Realmente não confio muito nas pessoas, talvez por isso tenha tão poucos amigos. Sempre fui muito sozinha, aprendi a ser assim, tive que ser assim. Quando estou sofrendo, poucas vezes me abro com alguém... faço isso escrevendo. Como sempre fiz.
Sendo assim, prefiro fazer certas coisas sozinhas, como 'bater perna' no centro da cidade, ir ao cinema...
Meu inglês sempre foi muito bom, obrigada. Dificilmente me sinto sozinha e decido as coisas sem perguntar a ninguém. Mas isso nem sempre é legal. Ainda mais quando se é casado...
Aos poucos, já quase adulta, fui aprendendo a tentar a ser menos egocêntrica e a perceber que o mundo não gira em torno de mim. Isso é muito dolorido, mas acho que aprendi direitinho, ou quase.
Meus primos? Ah, mudaram-se e pouco contato tivemos desde então. Moram no mesmo bairro, mas pouco nos vemos. Nasser e Luciano casaram e tem filhos que nunca conheci, nem ao menos suas esposas.
Nagibinho morreu quando eu tinha 21 anos, durante um pescaria no Recreio num feriado de 1o de maio. Não me lembro se chorei muito, foi horrível esperar o corpo ser encontrado e não tive coragem de ir ao enterro daquele primo que sempre quis que fosse meu irmão. Minha mãe ficou várias semanas doente e sofrendo muito. Meu pai sofreu do jeito dele, bebendo muito e fazendo visitas regulares a minha tia Eva.
A partir daí as famílias se reaproximaram um pouco, afinal meus pais era padrinhos do Nagibinho e sempre o acolhíamos em casa quando ele tinha problemas com a mãe. Quase veio morar conosco umas duas vezes.
Nagibe era muito querido, muito amado. Até hoje faz muita falta.
Esse aqui é para ele.

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