Saturday, March 20, 2010

Brasil, um país de mistérios...

A frustração vai passar e tenho ainda mais vontade de entender porque no Brasil as coisas funcionam de forma tão diferente. Sei que em outros países o tratamento dado à gestante e à gestação é totalmente diferente. Cada país parece ter diferente forma de encarar gestações que ultrapassam 40 semanas. Em alguns espera-se até a quadragésima quarta! E defendem que os riscos do bebê não ultrapassam 5 %. Aqui é tão diferente... parece que tudo tem a ver com os meios, com a tecnologia acessível aos médicos e às gestantes.
Não sei se caso eu morasse na Alemanha ou até mesmo em Portugal as coisas teriam sido encaradas da mesma forma que aqui. Conversei com dois médicos, enfermeiras. Todos disseram a mesma coisa: a partir da quadragésima semana, sem contrações, sem sinais, se o bebê não encaixar faça a cesariana porque a partir daí torna-se arriscado para o bebê. Mulheres com mais de 30 anos e na primeira gestação correm mais risco, não tem dilatação suficiente. Parece que tudo é ensinado na faculdade. Acho tudo baboseira porque procurei me informar a respeito e tudo é muito bem refutado por profissionais que consideram o índice de 80% de partos por cesariana no Brasil um absurdo, praticamente um caso de polícia. O que faz com que um número muito maior de mulheres no Brasil do que em outros países tenham seus partos normais considerados arriscados? Nosso corpo é mais frágil? Somos uma mistura louca de africanos e indígenas... O que faz com que nosso corpo torne inviável um parto normal?
No final das contas, todas acabamos caindo no papo do médico. É um momento delicado, quando estamos à espera de nossos filhos e queremos unicamente a sua saúde. O primeiro argumento é: é arriscado para o bebê. Nossas bandeiras são abaixadas no momento em que a frase é dita.
No último mês tentei me informar, agarrei-me ao que acredito, briguei com meu médico e esperei algum sinal do corpo. Ele deu poucos. A ciência e suas máquinas fantásticas disseram que ele não deu sinal algum. Após conversar com outra médica, tive a impressão de que, mesmo para os profissionais que defendem o parto normal, o parto cesariana é colocado como primeira opção. Parto normal fica parecendo exceção. Ela me disse: “quando eu pergunto à paciente que parto ela prefere, eu sempre complemento: se você prefere o parto normal, ótimo, mas o único que eu posso te dar certeza é a cesariana. O normal só vai acontecer se o seu corpo e o bebê derem condições.” Não deveria ser o contrário? Aqui não damos a luz no quarto em que estamos internadas, somos sempre levadas a centros cirúrgicos, para ‘qualquer eventualidade’. Médicos aqui consideram risco no parto normal, consideram que é muito sofrido tanto para mãe quanto para o filho, não entendem quando alguém diz não considerar a possibilidade de fazer uma cesárea.
Agora estou entrando na estatística, no número mais alto, mas ainda não estou convencida de que a obstetrícia aqui no Brasil seja voltada realmente para o bem-estar da gestante e do bebê e sim, para a comercialização dos partos. O que temos de diferente? Acho que sei (nada), mas deve ser bem complicado provar isso.
Não acho que deva ser assim, nunca vou dizer “é assim mesmo”. Não quero acreditar que meu corpo não responda a algo tão natural quanto um parto, uma gestação. Não posso acreditar que várias mulheres que eu conheço têm “problemas” parecidos com o que querem que eu acredite ter, ainda mais quando ouço pessoas falarem que nos países em que vivem ou de onde vieram é raríssima a realização de cesarianas. Não dá, cara, não dá pra entender. Mas eu vou tentar. E se eu descobrir, conto aqui.

Controle

Tive diferentes maneiras de lidar com a possibilidade de ter filhos. Achei durante muito tempo que filhos, assim como um casamento, poderiam de alguma forma, atrasar planos que tinha para minha vida. Fossem esses planos profissionais ou não. Minha liberdade vinha sempre em primeiro lugar. Durante toda minha adolescência meus pais me trataram como se eu tivesse 5 anos, sem liberdade de escolha em praticamente nada. Quando me vi ‘livre’ dessa proteção, passei a fazer o que queria, quando queria. Tinha domínio total sobre minhas ações e tudo o que dizia respeito a mim. Eu estava no comando.
Meu namoro mais duradouro revelou-se uma prisão de 4 anos. Não tinha vontade própria, meus amigos eram os dele. Só percebi onde estava quando tudo terminou. Aprendi um pouco, mas não o suficiente. Relações que duravam mais um pouco se transformaram em relações de dependência onde não havia vida em separado, era aquele papo furado de “uma única energia”, “somos um”... Uma grande babaquice, na verdade. Levei algum tempo para me livrar desse tipo de relação, foi um processo bem sofrido, na verdade... Quase uma desintoxicação, com direito a crises de abstinência gravíssimas... Mas consegui voltar ao comando de minha vida dentro de uma relação.
Aí já viu... Passei a ter certeza de que tudo estaria sob meu comando. Afinal, uma mulher de 35 anos, casada, feliz, independente (e vou parar por aí) pode ter total controle de todos os aspectos de sua vida que envolvam ela própria.
Então você (eu) engravida e tem um objetivo no que envolve o nascimento do primeiro filho: parto normal. Afinal, o corpo é meu, o filho é meu. Eu decido. Mas meses depois, meu principal parceiro, meu corpo, me aplica um golpe: ele não se prepara para o parto. Eu duvidei, briguei com o médico, chorei e esperneei com a possibilidade de perder o momento mais esperado e sonhado nos últimos meses: o parto normal. Pode parecer loucura, mas imaginava cada contração, cada dor...
Até que um exame de nome complicado o bastante para eu me lembrar e uma conversa com uma obstetra indicada por uma amiga colocam meu pé no chão e enterram todas as possibilidades de um parto normal. Apesar do desespero dos dias anteriores, de todo o choro e frustração, recebi a notícia com o alívio de saber que meu filho está 100% dentro do meu barrigão. O problema não é ele, sou eu e meu “útero preguiçoso”, como disse a médica.
Meu corpo me traiu, essa é a verdade. 35 anos e uma gestação levada até o fim parece terem sido um pouco demais para ele. Não tenho controle, não estou no comando. Mas, acredito que seja uma primeira porrada na grande mudança pela qual a minha vida passará com o nascimento de Anthony. Agora não serei mais eu, agora seremos eu e ele, durante muitos anos, até ele se tornar dono do seu próprio nariz e assumir o controle. E a história será contada, mas desta vez por ele.
Estou feliz, muito feliz. Não caibo em mim mesma. Choro. Mas novamente de felicidade.

Tuesday, March 2, 2010

Relatório da barriguda

Caramba, quase 3 meses sem escrever. Mas é isso aí, tanta coisa acontecendo que nem dá vontade de parar aqui. O lance é que agora eu parei. Barrigón está enorme, tô quase vivendo em função dele. Já virei mãe, né?
Consegui com a prefeitura o amparo pré-natal, que me permite trabalhar em uma escola próxima à minha casa. Como resultado dessa maravilha, estou trabalhando a 200 m de casa, três manhãs por semana. O que eu faço? Bom, por conta de ser uma escola que vai de Ensino Infantil até o quinto ano, ajudo o povo que trabalha na direção atendendo telefonemas e fazendo pequenos trabalhos chatos e burocráticos. Ajudo, sabe, mas ao mesmo tempo, sinto-me fazendo nada. Mas já senti o gostinho de trabalhar perto de casa. Estou repensando meu gosto por trabalhar em Guaratiba. F*deu, né?

Mas, por outro lado, por conta das 37 semanas, estou evitando sair de casa. Já me desliguei temporariamente do laboratório, não vou mais às aulas de ioga, quietei o faixo. Jongo, nem pensar, sambinha, idem. Não é só frescura. De dois dias para cá tenho sentido pequenas cólicas e dores. Anthony mexe demais durante a madrugada e só consigo dormir no melhor horário do mundo: depois do almoço. Delícia, né?

O parto virou um drama. Mas isso eu escrevo daqui a pouco, para aproveitar os dedinhos inchados e animados.